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O vice-presidente da Câmara venceu as eleições para a concelhia do PS num apelo à unidade dos militantes – tarefa hercúlea depois de lutas intestinas que acabaram na definição da lista de candidatos nas autárquicas do ano passado.

Feridas em aberto à espera de um tratamento que impeça nos tempos próximos rupturas definitivas.

Tem assim Paulo Ferreira um caderno de encargos difícil, no seu caminho de afirmação, como candidato futuro em 2025.

Candidato autónomo

A primeira dificuldade prende-se com a afirmação da sua liderança.

É líder por si ou continua na sombra do actual presidente da câmara – causa efectiva do rompimento do diálogo democrático no partido que levou à interferência da distrital do PS nas últimas eleições?

Como vai afirmar a sua posição política, sem que o actual presidente lhe permita aceder ao palco da decisão, mantendo-se em funções até ao último minuto do mandato?

Que tipo de discurso vai apresentar que sublinhe a diferença com a actual liderança do município; ou será que está dependente do actual discurso de poder e dele não pode fugir?

Que vantagem poderá oferecer aos futuros eleitores sem apresentar caminhos de renovação política e ficando agarrado ao actual discurso de “que está tudo bem” num concelho “único” no país?

Escassos militantes

A segunda dificuldade prende-se com o escasso número de militantes que o partido tem, neste momento. Ao fim de 9 anos de poder, 131 militantes apenas é sinal de que:

  • ou existe uma estratégia de impedimento de novos militantes para que os actuais controlem a decisão;
  • ou há uma efectiva desilusão dos eleitores no papel do partido no governo da nossa terra.

Esta dificuldade é trágica no que significa e no que pode esconder.

No que significa:

depois de tantos anos de democracia, a militância partidária é vista como actividade menor, dispensável e até não necessária. Daí o desinteresse – coisa que agrada a ditadores, sempre inimigos dos partidos!

No que pode esconder:

uma tentativa da máquina partidária controlar a decisão (e respectivos benefícios – nem que seja a ilusão deles!) e assim impedir a normal resolução de leituras e visões plurais nascidas da sociedade à espera de resposta política.

A Claque

Fechada sobre si, a máquina partidária fica assim reduzida a uma claque: com o entusiasmo da vitória futura, com a ilusão da verdade objectiva, dispensando dúvidas e sobretudo discussões alternativas.

Um acto contínuo do martelar informações que a cadeia de comando define no conteúdo e no tempo oportuno e assim distribui (sobretudo) nas redes sociais num “debate democráctico” que mais não é que o vira minhoto da pescadinha de rabo na boca.

E novidades?

Exacto, é aqui que a “porca troce o rabo”. Que horizontes para a nossa terra vai abrir Paulo Ferreira na sua narrativa futura, capaz de delinear os caminhos para oferecer uma vitória ao PS em 2025?

Partilha com o actual presidente uma memória flácida mesmo recente:

  • saída do FAM que não se verifica;
  • resgate da água que não se confirma;
  • preço da água que não baixa;
  • obra estrutural que não acontece;
  • comboio que não aparece.

Também partilha uma opção alegre e dispendiosa de entretenimento de resultado difuso:

. pão e circo para todos;

Insere-se também na narrativa do “gáudio social” numa colagem ao discurso governamental, com medidas na área social (e aqui bem positivas), na sequência de transferência de competências que o executivo aceitou.

Mas o que fazer quando o eleitorado entender que chegou o momento de dispensar o partido do Governo? Que enquadramento para o discurso político local sem as referências que chegam de Lisboa?

Nessa altura se verificará que “falta obra”, mas sobretudo visão para o futuro, capaz de mobilizar os eleitores que muito dificilmente se deixarão motivar pela “claque”.

A tarefa de Paulo Ferreira é assim monumental. Agora que tem a experiência de 9 anos de poder, cabe-lhe reconfigurar a coisa e redefinir as linhas mestras do tempo que vem aí.

Mas o presidente vai deixar?

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