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Deus, nosso senhor, criou o universo e dotou-nos com as armas do prazer para celebrar o calor do sol e o perfume das sombras. Nós criamos os políticos para tratarem das coisas comuns.

E foi assim que nasceu o poder, aquela possibilidade de alguns (poucos) tratarem do que é nosso para que na simplicidade da vida tudo corra bem. E quando não corre, lá aparecem eles a dizerem-nos que estamos equivocados e que se repararmos bem tudo funciona às mil maravilhas, estamos é a ver mal.

Isto de ver mal parece que vem da senhora Eva que terá retirado a folha silvestre e afagado os picos do senhor Adão, mais dado a sentimentos turbolentos nas horas do diabo, esse mafarrico.

E é por isso que a coisa corre mal, até lhe chamam pecado, coisa em desuso como sabemos.

O preço do bacalhau

Andamos nós às voltas do preço do bacalhau, do pão, do leite; o BCE sobe o preço do dinheiro (ai os juros da casa!), tudo isto numa rapsódia de aumentos que minga a carteira pondo-nos aflitos e a fazer contas de cabeça, a remoer com os nossos botões e a perguntar: onde é que isto vai parar.

Por baixo do umbigo começa uma comichão que nos aquece a cabeça e põe a boca a falar sem que a possamos calar e a dizer: isto está bonito, pois está!

Na antecâmara do desespero, debaixo de um céu carregado de nuvens começamos a olhar para o lado, a falar com amigos e família e procuramos resposta para a pergunta do dia: como nos vamos safar? Não sabemos e pronto, seja o que Deus quiser; mas como se Ele não sabe fazer contas, na economia não se mete e apenas nos promete a salvação (?).

Felizmente, os políticos!

Como Deus está atrasado – dizem-me que o tempo dele não é o nosso! – temos os políticos que atentos e solícitos nos oferecem – só não vê quem é da oposição, pois claro, esses ignorantes e mal intencionados que vêem mal em tudo – momentos de gáudio e ilusionismo que afinal nos mostram (à evidência) que tudo está bem numa terra única que não tendo sido escolhida por Deus (Ele terá mais que fazer) recebe a benção da fé socialista.

E enquanto os simples mortais – nós todos, mesmo aqueles que não votam – em silêncio e no respeito pela memória que os mantêm de pé visitam os cemitérios no respeito dos seus, os arautos da “boa (e oficial) nova” abraçam o povo no combate à crise que o assola com dois eventos retumbantes capazes de animar as almas do céu.

Circo, pão e ilusionismo

A Comissão de Festas da Câmara Municipal tudo faz para que não nos falte nada e foi assim que montou um 31 da alegria. Segundo os relatos oficias 2000 jovens deram à perna e gozaram com a morte essa coisa esquisita da qual não se pensa mas merece gozo, sobretudo nos primeiros momentos da vida.

Como todos sabemos a “noite das bruxas” é um acontecimento cultural muito arreigado na nossa terra, disso constando na história do nosso povo muitos e variados registos, que fazem dela uma evento crucial.

A política oficial, sempre atenta aos desejos do povo, não podia passar ao lado e fez-se festa, luz e circo. Quem é vosso amigo, quem é?

“Dia 11 de novembro, a partir das 21h30, Fernando Rocha, Francisco Menezes, Carlos Vidal e Sor Miguel, vão estar no Pavilhão Municipal de Paços de Ferreira com o espetáculo Pi100Pé!
Evento organizado pela Câmara Municipal de Paços de Ferreira, Difracte e Fly Produções”. – segundo nota de imprensa da edilidade.
Ainda a ganhar folgo desta noite retumbante, a dita Comissão de Festas abraça-nos com mais um convite, desta vez, para explicar a alegria da vida, numa estética de comunicação deslumbrante e com forte mensagem política.
PI100PÉ – assim se chama a festa que está a chegar num “evento organizado pela Câmara Municipal de Paços de Ferreira” e empresas de entertenimento que pela vida fazem o que podem e muito bem. Haja liberdade que a todos nos permita viver!

O que parece, é!

Desde o antigo regime que nos ensinam que “em política, o que parece, é!” Isto é, se mexe, existe; se reúne, há manobra; se se repete, há comício!
Então o que significa esta catrefada de “eventos” decididos e orientados pelos nossos políticos (pre) ocupados que estão na gestão das emoções – às vezes as mais baixas – das pessoas? sobretudo num momento em que a existência de alguma reserva mental deveria sobrepôr-se  quando os eleitores a quem eles (sempre) se dirigem andam preocupados com o preço da comida?
Tem de haver, pois, uma razão substancial para a Câmara Municipal “apoiar” esta mensagem do “Pi100pé”; comunicação política, evidentemente.
E para não dizerem que somos da “oposição” até achamos que este evento é para comemorar uma das poucas promessas cumpridas pelo poder. Isso mesmo, para lembrar o “Cheque Bebé”.
Desconhecemos, contudo, se no fim, como costume protocolar, falará o poder à multidão num discurso entusiasmante sobre o benefício social do acto de foder, num concelho onde a natalidade é um patrimónico identitário.

Haverá mais razões

E uma delas prende-se com a metodologia política em execução onde se explica o que é o poder. Ou, escrito em forma de pergunta, será que poder é foder?
Vem isto a propósito de informações que recebemos de fontes de “fogo amigo” que nos avisaram – mas nós já sabíamos – da existência de uma lista de cinco pessoas e um estagiário dedicadas e instruídas que foram para “destruir a rádio freamunde e o pacoslook” montando para isso um “cerco de informação” e um guardanapo de calúnias sobre quem colabora com estas publicações, chegando ao ponto de “esclarecer” alguns colaboradores dos “riscos que correm”.
Entende esta gente que o poder é um acto selectivo, entre o branco e o negro, e que lhes compete decidir quem partilha do banquete do “milho amarelo”. Até aqui, têm a nossa benevolência, dado que “quem anda à chuva, molha-se” embora no direito de se safar entre os pingos da mesma.
Animados assim pela chuva que cai, verificamos que estes escolhidos “soldados da verdade” mais não são do que cinco gansos de monco caído, disponíveis para encomendas mas conhecidos pelo flácido êxito resultante da pouca vontade em trabalhar, coisa verificada ao longo do tempo. Também aqui, nesta missão, vão falhar!
E assim informados, podemos garantir aos nossos leitores que continuaremos o nosso trabalho, de facto protegendo o nome de quem connosco colabora – acreditem que é mesmo preciso, bastando para isso verificar o êxito da “censura oficial” no desaparecimento de publicações entretanto conhecidas e que por “divergentes da narrativa ofical” foram desaparecendo ao longo do tempo.
Esta estranha concepção da liberdade, este apego ao poder que tudo parece explicar, o desprezo pela qualidade da democracia na nossa terra constituem um desafio que a todos convoca.
Precisamos de dotar os nossos filhos e netos de uma comunidade política civilizada e desenvolvida, construída na competição e ao mesmo tempo apostada na certeza de que da soma das diferenças vivemos melhor por que mais livres e plurais.
Sempre a liberdade foi caminho do progresso e da criação. De novas opções, de novas tendências e assim nos protegemos das crises cíclicas que nos pretendem abafar num ambiente carregado de mofo que apenas anuncia a derrota e a morte do que verdadeiramente interessa – a vida comum onde todos diferentes e iguais (perante a lei) sentimos o prazer de viver na nossa terra e por ela lutar.
Lamentamos verificar que a política, para esta gente, é foder alguém. O seu universo de curto e inculto convida os adversários para uma luta entre porcos, onde mesmo quem ganha sai borrado. Nunca entraremos nesse campeonato.
Felizmente o voto (ainda) é secreto. E nós sabemos – e por isso lutamos – com o nosso trabalho que apenas depende dos nossos leitores.
Por Arnaldo Meireles
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O prazer na política